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Liderança e Filosofia Tolteca – parte 1

O que podemos aprender com nossos ancestrais?

Destaques

  • Evoluir é uma das três motivações básicas do ser humano
  • Acessar a sabedoria milenar pode nos ajudar a viver melhor o presente e a construir um mundo mais alinhado com o que sonhamos
  • Empresas são feitas de pessoas, então não há como excluir a evolução pessoal da pauta da liderança

Evoluir é uma das três motivações básicas do ser humano, e isso pressupõe movimento do passado em direção ao presente e ao futuro.

Com as sucessivas superações tecnológicas que experimentamos, corremos o risco de acreditar que nada podemos aprender com o passado. Mas será que isso é verdade?

Quanto mais me dedico ao estudo da evolução humana, mais descubro que, em essência, nossos maiores problemas não diferem tanto daqueles que nos precederam. Para ser honesta, receio que em termos de sabedoria e inteligência sistêmica nós regredimos. Temos muito a resgatar na cultura ancestral para aumentar nossas chances de lidar bem com os desafios humanos hoje. Se tivermos a humildade de redescobrir os ensinamentos dos homens e mulheres que habitaram o planeta nos primórdios dos tempos, estaremos melhor equipados para gerir equipes e navegar na complexidade.

É por isso que proponho a vocês, líderes, uma reflexão sobre a vida corporativa, baseada nos 4 Compromissos Toltecas.

Você está disposto a aprender com quem veio antes?

Quem são os Toltecas?

Homens e Mulheres sábios, cientistas e artista, que viveram há milhares de anos onde hoje é o Sul do México. Sua sabedoria era tão profunda e poderosa, que foi temida pelas novas nações, em função do risco que poderiam representar se essas pessoas usassem seus conhecimentos para benefício próprio. A maioria dos mestres (nagual), contudo, sabia que o uso de seus conhecimentos deveria servir ao coletivo. E alguns deles, cientes de que seus ‘saberes’ seriam necessários no futuro, tiveram o cuidado de cultivá-los de geração para geração.

Isso porque poderiam ajudar o ser humano a se reconectar com a sua essência, como forma de expandir a felicidade e o amor, que são a força motriz das pessoas em qualquer tempo!

E foi nesse intuito que Don Miguel Ruiz, descendente desse povo primitivo, escreveu obras como “Os quatro compromissos – o livro da filosofia Tolteca, um guia prático para a liberdade pessoal.”

Meu convite é que possamos acolher as premissas dessa filosofia com a mente e o coração abertos, para assim podermos usufruir de ensinamentos aplicáveis no cotidiano da liderança.

O que realmente somos?

A filosofia TOLTECA, assim como todas as tradições espirituais do oriente e do ocidente, entende que somos seres espirituais vivendo uma experiência material. Ou seja, somos expressão da fonte criadora de tudo o que vive, o que chamamos de Deus, e estamos unidos, apesar da ilusão de estarmos separados.

De forma prática, somos corpos com diferentes personalidades exercendo diferentes funções no mundo. Uns ganhando muito dinheiro por isso, outros nem tanto. Uns sendo reconhecidos pelo que condicionamos como sucesso social, outros nem tanto.

Mas quando nos “encontramos” de verdade com outras pessoas e nos permitimos ver além da sua função, qualificação, diplomas ou sua capacidade produtiva, é tão fácil reconhecer que em essência somos o mesmo – “o verdadeiro nós é puro amor, pura luz”, como afirma Don Ruiz Miguel.

“O verdadeiro nós é puro amor, pura luz”
– Don Ruiz Miguel

O livro mostra como as crenças que construímos acabam formando um “nevoeiro”, que nos impede de reconhecer no outro ser humano o espelho que reflete nossa própria luz.

Quem quer se aprofundar nessa visão, convido que leia o livro, que é tão simples quanto profundo. Minha proposta nesse artigo é para olharmos para os 4 Compromissos que podem nos ajudar na prática corporativa, assim como nos relacionamentos pessoais.

Primeiro Compromisso: Seja impecável com sua palavra

A palavra tem um poder incrível de criar realidades, e, uma vez dita, não volta.

Você já experimentou trabalhar numa equipe em que palavras malinas ferem as pessoas e matam seu potencial a cada dia?

É o que acontece quando o nível de estresse domina executivos que acreditam dar tudo pelos resultados, enquanto na verdade estão destruindo as ‘fontes’ dessa construção, que são as pessoas. Sim, porque pessoas são fontes, e não recursos. Fontes de luz e infinito potencial criativo, quando bem cuidadas.

Liderar significa edificar o outro, dar direção para promover a evolução do ser humano que lhe foi confiado. Nesse intuito, a Palavra também tem imenso poder. Cada vez que é usada para nutrir a confiança das pessoas, é como a água que rega a planta, fazendo crescer suas virtudes, suas qualidades e suas competências.

Através da Palavra bendita (bem dita), o líder cultiva as boas sementes e pode ver pessoas florescendo, cada vez mais capazes de expandir a confiança, a colaboração e a criatividade, somando esforços para construir soluções de valor. Esse é o alicerce tanto para resolver problemas dentro da empresa quanto para inovar no mercado, surpreendendo clientes, ou construir parcerias que geram diferencial em produtos e serviços.

Ter a clareza de que a Palavra é a base dos relacionamentos é central na liderança humanizada e consciente. Anterior a isso, porém, está a consciência de que a palavra expressa quem você é e sua manifestação no mundo:

“O que você sonha, sente e realmente é será manifestado mediante a palavra… A palavra é a mais poderosa ferramenta que você possui como ser humano.”

Como você se sente em relação a forma como tem se expressado no mundo através das suas palavras?

Elas tem construído times ou destruído a autoconfiança das pessoas?

Lembro de um executivo muito peculiar, inteligentíssimo, mas com grande dificuldade de gestão das emoções, que seguidamente explodia com seu time, gritando coisas como: “Você é burro! Como não entende?”, entre outras palavras danosas que afundavam a equipe…

Por contraste, quando esse mesmo homem estava com sua esposa e sua filha, era dócil e atencioso. Tive a oportunidade de conhecê-lo melhor fora do ambiente corporativo e descobri que ele tinha um grande coração, era estritamente honesto e tinha boa intenção no trabalho. Mas pecava gravemente com a Palavra, o que o fez perder grandes talentos sucessivamente, e ser colocado em uma função lateral, muito bem remunerada, mas que exigia menos interação com pessoas. Será que ele percebe que a Palavra maldita anulou sua liderança e ‘empobreceu’ seu trabalho?

Por que tantos profissionais reservam a Palavra bendita apenas para as pessoas de seus relacionamentos pessoais? Ou agem como se não fossem a mesma pessoa?

Você já viu ou viveu algo parecido?

Bom, vamos adiante…. O fato é que além da agressividade, outras duas formas de usar a palavra causam muitos danos na vida corporativa: a mentira e a fofoca.

A primeira é sempre fonte de problemas, que só crescem quando mais mentiras são usadas para tentar salvar a anterior. Nas empresas, mentiras para clientes, para colegas de outras áreas, são tão comuns que chegam a ser consideradas quase normais. “O material não chegou.” “Tivemos um problema com o sistema”. “O cliente mudou de ideia.”

Quando há mentiras, contudo, o nível de confiança e comprometimento caem, pois as pessoas nunca sabem se é verdade ou se é mentira. Há não ser que todas as pessoas firmem o compromisso comum de só falarem a verdade, mesmo nas pequenas coisas. E quem resolver viver assim, descobre que é muito mais fácil e leve dizer a verdade sempre, e que encontramos muito mais acolhimento à qualquer verdade do que à mais ‘bela’ mentira. Isso porque a verdade está na essência do ser humano, já que somos pura luz. Então, quando sentimos que alguém está sendo verdadeiro conosco, mesmo dando ‘más notícias’, nos abrimos a esta pessoa, porque nossas verdades se conectam! Eu experimento isso tanto no trabalho quanto na vida pessoal e é muito poderoso!

A fofoca, por usa vez, consiste em espalhar veneno emocional no ambiente, através de opiniões negativas baseadas nas nossas próprias crenças. Isso cria barreira entre as pessoas, pois o julgamento é colocado antes mesmo da interação acontecer. Por exemplo, quando um novo colaborador ou gestor chega na empresa, alguém já vai logo dando as informações sobre toda a equipe, conforme lhe agrada ou desagrada: “Espera para ver, a Joana sempre complica as coisas e emperra todo o trabalho. O Sérgio é um puxa saco. O Alan sempre se diz pronto pra ajudar, mas na hora tem uma boa desculpa pra pular fora.”

No livro, o autor compara a fofoca há um vírus de computador, no qual “um pequeno trecho de desinformação é capaz de interromper a comunicação entre pessoas, infectando cada indivíduo, que passa a contagiar outros.”

Na nossa fábula corporativa, ouso dizer que cumprir com a “Impecabilidade com a palavra” inclui usar o sábio Silêncio sempre que essa opção se mostrar mais generosa.

Por último, mas não menos importante, ser impecável com a sua palavra significa não usá-la contra si próprio. Temos a tendência de sermos cruéis conosco mesmo, batendo nas mesmas teclas das nossas falhas e assim mantendo a chama do medo sempre assustadoramente acesa!

Dirigir palavras edificantes para si mesmo é importante para cultivar o amor próprio e a autoconfiança, que são as fonte do amor ao próximo. Da mesma maneira, não podemos aceitar palavras nefastas que são proferidas contra nós. Se alguém o agrediu verbalmente, questione a veracidade dessa palavra. Acolha apenas o que gerar crescimento e rejeite o que não é verdadeiro e que lhe faz mal. Devolva silenciosamente para a pessoa que emitiu a Palavra o que ela emana, já que a percepção negativa é dela e não sua.

“Quando você se torna impecável em relação a sua palavra, sua mente não mais fertiliza palavras que formam maleficio. Ao invés disso, é um terreno fértil para palavras que venham do amor. Você pode medir a impecabilidade de sua palavra pelo seu nível de amor-próprio. Quando você ama a si mesmo e como se sente em relação a si mesmo são diretamente proporcionais à qualidade e integridade de sua palavra.”

A leitura desse livro do Don Miguel Ruiz me tornou mais vigilante com a Palavra no dia a dia. Antes de fazer um comentário, avalio se é benéfico, se vai agregar em alguma coisa ou se carrega uma carga negativa, que não soma. E muitas vezes acabo optando pelo silêncio.

Perceber o aumento do amor próprio e da qualidade da comunicação dos líderes que atendo em mentoria me moveu a compartilhar essas reflexões com você!

Desejo que a sua Palavra também seja luz na sua equipe e na sua família!

Bom, acabamos mergulhando tanto no Primeiro Compromisso que terei que deixar ou outros três compromissos Toltecas para o próximo artigo.

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