Inspire-se

Liderança e Filosofia Tolteca – parte 2

Como a sabedoria ancestral pode trazer luz para o ambiente corporativo?

Destaques

  • Que novos “compromissos” podemos assumir para ter uma vida mais leve, próspera e feliz?
  • Como a “palavra” dos outros impacta você no trabalho?
  • Você acredita que é capaz de mudar as pessoas?

Na primeira parte deste artigo, falamos sobre porque vale a pena redescobrir o que os povos milenares têm a nos ensinar, quem são os Toltecas e como seus ensinamentos colocam luz sobre temas que continuam sendo desafios para homens e mulheres da atualidade.

Essa sabedoria ancestral nos dá um caminho para viver com mais liberdade pessoal e felicidade. Nossa proposta é refletir sobre como esses conhecimentos podem ser úteis no ambiente corporativo.

Se você ainda não leu a primeira parte desse artigo, sugiro que acesse e leia Liderança e filosofia Tolteca – Parte 1

Em “Os Quatro Compromissos: o livro da filosofia TOLTECA”, Don Miguel Ruiz alerta para a necessidade de avaliarmos os compromissos que assumimos na vida (muitas vezes de forma inconsciente), pois eles acabam moldando nossa percepção de mundo, nossas escolhas e comportamentos. Ele enfatiza:

“O primeiro passo na direção da liberdade pessoal é a consciência. Precisamos estar conscientes do problema para poder resolvê-lo.”

Ter a coragem de quebrar velhos compromissos que roubam nossa energia vital e assumir novos compromissos, que nos potencializam, é o caminho para resgatar nossa inteireza e alegria de viver.

Nesse sentido, os Toltecas nos ensinam Quatro Compromissos para a vida:

  1. Seja impecável com a sua palavra
  2. Não leve nada para o lado pessoal
  3. Não tire conclusões
  4. Sempre dê o melhor de si

Já tratamos do primeiro na parte 1 do artigo, e hoje vamos falar dos outros três compromissos, refletindo sobre a aplicação deles no trabalho.

Segundo compromisso: Não leve nada para o pessoal

Nossa tendência humana é acreditar que os outros agem ou falam deliberadamente para nos apoiar ou nos prejudicar, para nos fortalecer ou para nos destruir, para nos satisfazer ou para nos magoar.

Segundo a filosofia Tolteca, “nada do que os outros fazem é motivado por você. É por causa deles mesmos.” Essa afirmação de Don Miguel pode parecer desoladora num primeiro momento, mas ao analisarmos mais a fundo, percebemos que na verdade nos confere liberdade.

Significa que cada pessoa tem um universo próprio, criado a partir das suas experiências, crenças, motivações, medos e expectativas. Quando interagimos, cada um de nós percebe a realidade com base em seu próprio ‘mundo interno’ ou nível evolutivo. Assim, funcionamos como “espelhos” uns para os outros: você se vê em mim e eu me vejo em você.

Esse é o sentido daquela famosa expressão: “O que Paulo fala sobre Pedro diz mais sobre Paulo do que sobre Pedro”.

Em termos práticos, um líder que é inseguro ou competitivo, por exemplo, sempre vai achar que seus pares estão fazendo algo para derrubá-lo ou para ocupar seu espaço. Da mesma forma, olha para sua equipe como ameaça, ao invés de perceber as pessoas como apoio à sua jornada.

Por outro lado, um líder consciente, que tenha interesse genuíno pela evolução das pessoas, pode ter dificuldade de ajudar um colaborador que vive regido pelo medo. Será necessário um tempo maior para gerar confiança e fazer com que a pessoa desconfiada amplie sua visão de mundo e reconheça que está num ambiente seguro.

Outra contribuição desse segundo Compromisso é o alerta para ‘relativizar’ a opinião das pessoas, não tomando como verdade absoluta tudo que afirmam sobre nós.

A sugestão é nos questionarmos:

– “Isso é verdade?” “Eu concordo com essa afirmação sobre mim?”

Assim podemos fazer um filtro e acolher os feedbacks que façam sentido e que contribuem para o nosso desenvolvimento. E nos protegemos de opiniões alheias destrutivas e das ‘palavras malditas’ que nos ferem.

Quantas pessoas se sentem incompetentes ou insuficientes em função das palavras nocivas que ouviram dos seus chefes?

Você já foi impactado por palavras duras de chefes ou colegas no trabalho?

A sabedoria Tolteca ressalta que quando ‘sabemos quem somos’ e não sentimos tanta necessidade de sermos aceitos ou aprovados, ficamos imunes às opiniões dos outros.

Na mesma medida, quando nos sentimos seguros, não temos a necessidade de defender ferrenhamente nossas ideias ou convencer as pessoas de que estamos certos.

Isso permite que nossas interações sejam mais livres, nas quais expressamos nossos pontos de vista com clareza e temos capacidade de escutar abertamente ideias diferentes das nossas.

Já pensou se toda comunicação nas empresas fluísse com esse alto nível de trocas?

Em outro cenário, quando uma pessoa assume postura de ataque, Don Miguel Ruiz nos convida a ‘deixar com o outro o que é do outro’, com a seguinte atitude interna:

“O que diz, o que faz e as opiniões que emite estão de acordo com os compromissos que você firmou – e esses compromissos nada têm a ver comigo.”

Você provavelmente conhece pessoas que estão sempre reclamando, vendo problema em tudo e eternamente insatisfeitas. São pessoas que firmaram compromisso com o sofrimento (inconsciente, claro). Também é comum encontrarmos pessoas que só sabem viver no papel de vítima, seja no trabalho ou mesmo nos relacionamentos afetivos. É necessário ‘quebrar esses compromissos’ e assumir novos compromissos, como o de aprender com todas as pessoas e situações, por exemplo.

O autor compara nossa vida a um filme, no qual cada um de nós tem a capacidade de editar e dirigir como quiser. Se não está gostando do filme, muda!

Essa perspectiva reforça a responsabilidade pessoal. Tudo o que vivemos tem a ver com as escolhas que fazemos. E nós sempre temos escolhas.

Ficar em uma empresa que não tem valores coerentes com os seus, ou que não dá espaço para o seu crescimento, é uma escolha possível. Porque por algum motivo você prefere essa realidade que a realidade de sair da empresa. Vale então assumir integralmente a escolha, com o ônus e o bônus incluídos, até que deseje fazer uma nova escolha.

No exercício da liderança, que exige muita tomada de decisão, também é comum que os líderes se sintam culpados pelas ações dos colaboradores. É claro que exercem grande impacto na vida dos liderados e precisam criar condições favoráveis para que estas pessoas cresçam, mas seu papel tem um limite. Essas duas afirmações de Don Miguel enfatizam esse aspecto:

“Você nunca é responsável pela ação dos outros; só é responsável por si próprio.”

“Se os outros mudam, é porque desejam mudar, não porque você pode mudá-los”.

Para mim, que atuo como Mentora de Líderes, essa consciência é também um exercício de humildade. Faço a minha parte, e o mentorado faz a dele. O mérito da evolução e das conquistas é dele!

Todo líder é também um mentor, que facilita e impulsiona a jornada o liderado. Mas a escolha de avançar, agir para progredir ou ficar parado é da pessoa.

Essa mentalidade nos permite dar nosso melhor, com leveza e liberdade. E respeitando o outro, além de confiar que cada ser humano dispõe de todos os recursos internos que necessita para evoluir.

Terceiro compromisso: Não tire conclusões

Uma das maiores fontes de problemas de comunicação é tirar conclusões com base nas nossas próprias referências.

As pessoas são diferentes, querem coisas diferentes, tem motivações próprias.

Por isso o melhor caminho é sempre perguntar.

Quando se trata de movimentos na carreira, por exemplo, é comum que os líderes e mesmo o pessoal de RH suponham que o colaborador quer acender verticalmente. E muitas pessoas não têm esse desejo. Quantos vendedores amam ser vendedores e não querem ser gerente de vendas? E nas áreas mais técnicas, quantos excelentes profissionais não se sentem confortáveis em assumir funções que envolvem gestão de pessoas? Querem ser valorizados e reconhecidos de outras formas.

Pergunte o que motiva as pessoas do seu time! Pergunte quais são seus sonhos!

Pergunte também sobre os medos das pessoas que estão trabalhando com você.

E é fundamental que essa pergunta seja feita com o interesse genuíno de ouvir a perspectiva do outro.

Como Otto Scharmer nos mostra nos Níveis de Escuta da Teoria U, podemos escutar com:

a) Mente Aberta, para conhecer os argumentos do outro;
b) Coração Aberto, para nos conectar com os sentimentos da pessoa;
c)Vontade Aberta, para propiciar que o “novo” possa emergia dessa conversa.

Leia mais em: Da Escuta Ativa à Escuta Empática

Quarto compromisso: Sempre dê o melhor de si

O quarto compromisso Tolteca é aquele alinha os três anteriores e nos anima a recomeçar todos os dias.

“Sob qualquer circunstância, sempre faça o melhor possível, nem mais nem menos. Porém, tenha em mente que o seu “melhor” nunca será o mesmo de um instante para outro. Tudo está vivo e mudando o tempo todo…”

Seu melhor é diferente se está reenergizado, de manhã, após uma boa noite de sono, ou se está cansado; é diferente se está saudável ou doente; se está tranquilo ou preocupado com um membro da família.

Seu melhor certamente é melhor quando você está feliz e animado do que se está irritado ou triste. Nosso estado emocional muda o tempo todo e altera o nosso melhor. Por isso é tão importante aprendermos a reconhecer nossas emoções e lidar com elas.

A grande questão aqui é tomar consciência de que nada é estático e aceitar essa realidade. Isso nos torna mais fortes e resilientes.

Outro benefício de assumir o compromisso de dar o seu melhor sempre é não ter medo de falhar. Esse é o verdadeiro antídoto para o perfeccionismo, que tantas vezes paralisa as pessoas, especialmente as mulheres.

Quando nos comprometemos a dar nosso melhor, cientes de que esse melhor varia, não temos medo de entrar em ação. E é a ação que gera resultados, é a ação de hoje (no estado que estivermos) que fará a diferença hoje.

“Simplesmente, dê o melhor de si – em qualquer circunstância da sua vida. Não importa se você está doente ou cansado, se der sempre o melhor de si, não haverá forma de julgar a si mesmo. E, se não julga a si mesmo, não há forma de ficar sujeito à culpa, ao arrependimento e à autopunição.”

Vejo esses Quatro Compromissos TOLTECAS como uma bússola, que pode nos ajudar enormemente a gerir nossas vida, nossos times e nossas empresas rumo a horizontes prósperos, com mais leveza, amor e alegria!

Compartilhe